O carro flex surgiu no Brasil como uma espécie de cartada para salvar o Pro álcool, programa governamental criado em 1975 que instituía a oferta de álcool combustível em substituição a gasolina.
Desde o início, o Pro álcool envolveu vários setores produtivos. À indústria automobilística nacional coube a adequação dos motores ao novo combustível. O resultado inicial foi o carro movido exclusivamente a álcool. Assim, a utilização do novo combustível passava pela escolha compulsória do modelo na hora da compra do carro novo ou pela alternativa de submeter o carro usado a uma cara e nem sempre compensadora conversão.
Após explosivo sucesso o programa entrou em declínio por falta de credibilidade junto ao consumidor. Os principais motivos da descrença eram variações constantes do preço e características do álcool até a falta desse combustível nas bombas. Filas em postos e o risco de ficar com o carro parado faziam do carro a álcool um verdadeiro pesadelo para seus donos. Também não foram poucos os casos de danos nos motores devido a combustíveis fora de especificação. O complemento da oferta pelas importações de álcool de uva transformava os carros a álcool em verdadeiros gambás mecânicos com seu odor insuportável. Já a mistura com metanol resultou em vários casos de intoxicação com registro de mortes e cegueira devido a ingestão das chamadas "peruas" preparadas, inadvertidamente, com o álcool batizado comprado nas bombas de postos de abastecimento automotivo.
Nesse contexto, a aposta no carro flex foi bem sucedida, este logo ganhou a preferência do consumidor que viu como grande vantagem a liberdade plena na escolha entre os dois tipos de combustível, incluindo mistura, na hora de abastecer. Tornou-se quase unanimidade, mas tecnicamente deixa muitas dúvidas e levanta polêmicas quanto a sua eficiência. Muitos reclamam do consumo mais alto em relação aos automóveis projetados para o uso de apenas um dos dois combustíveis. Isso sem entrar no julgamento da instituição do Pro álcool que é tido por muitos como um programa de concepção torpe e prejudicial à nação. Isolamento tecnológico e a concorrência com a produção de alimentos são as principais reclamações.
Mas, o que traz o carro flex ao foco deste blog é o fato de seu lançamento ter mostrado que lendas e mitos não nascem só no meio leigo. Pois bem, logo de cara, o carro flex obrigou aos engenheiros e especialistas ligados ao meio automobilístico reverterem totalmente a unânime afirmação que preconizavam, de que não se podia misturar álcool hidratado e gasolina no tanque do carro. Uma "verdade" estabelecida que teve que ser oficializada como lenda.
Também a expectativa criada para o novo carro de que graças a maior taxa de compressão do motor, seria mais econômico que o carro a gasolina, quando abastecido com o mesmo combustível,. não se confirmou. Até hoje a afirmação dos usuários é de que o resultado é justamente o contrário. Vejamos um pouco desse embrolho mais de perto.